quarta-feira, 30 de março de 2011

Ser em contradição

Sem mais nada a dizer, nenhuma conclusão...
Me contradisse todas as vezes que pensei em pensar...
Por sinal, já me contradisse nestas linhas também...

domingo, 27 de março de 2011

O que Será [Tudo Isso]



O que será?!

O que será?
Deus meu o que será?
“Que todos os avisos não vão evitar
Porque todos os risos vão desafiar
Porque todos os sinos irão repicar
E todos os meninos vão desembestar
E todos os destinos irão se encontrar
E mesmo padre eterno que nunca foi lá
Olhando aquele inferno vai abençoar!
O que não tem governo nem nunca terá!
O que não tem vergonha nem nunca terá”
O que não se pode dissimular?
O que não é certo recusar?
O que que vive nas idéias dos amantes
E cantam os poetas delirantes (“Sou quem falhei ser¹.”)?
O que está na fantasia dos infelizes?
E no dia a dia das meretrizes?
O que não tem remédio,
Nem fórmula,
Nem solução nas ciências?
O que os mandamentos não conciliam?
As instituições não conciliam?
O que nos faz viver?
O que nos faz morrer?
O que nos faz sorrir?
O que nos faz sofrer?
O que não tem concerto,
Nem certeza,
Nem tamanho,
Nem decência,
Nem censura,
Nem sentido?
E NUNCA TERÁ?!
Só pode ser o humano que nunca será...
Que não está completo e nunca estará...
Que não está contido e nunca estará...
É o que faz sentido e nunca fará...
É o que é bonito...


Fica então uma música do Lenine:

O Que É Bonito?



O que é bonito
É o que persegue o infinito
Mas eu não sou
Eu não sou, não...
Eu gosto é do inacabado
O imperfeito, o estragado que dançou
O que dançou...
Eu quero mais erosão
Menos granito
Namorar o zero e o não
Escrever tudo o que desprezo
E desprezar tudo o que acredito
Eu não quero a gravação, não
Eu quero o grito
Que a gente vai, a gente vai
E fica a obra
Mas eu persigo o que falta
Não o que sobra
Eu quero tudo
Que dá e passa
Quero tudo que se despe
Se despede e despedaça

O que é bonito...



¹ Trecho de “Pecado Original” de Álvaro de Campos (heterônimo de Fernando Pessoa)

quarta-feira, 16 de março de 2011

O que Será? [2]


O Que Será (A flor da Terra)
Chico Buarque

O que será que será
Que andam suspirando
Pelas alcovas?
Que andam sussurrando
Em versos e trovas?
Que andam combinando
No breu das tocas?
Que anda nas cabeças?
Anda nas bocas?
Que andam acendendo
Velas nos becos?
Estão falando alto
Pelos botecos
E gritam nos mercados
Que com certeza
Está na natureza
Será, que será?
O que não tem certeza
Nem nunca terá!
O que não tem concerto
Nem nunca terá!
O que não tem tamanho...
O que será? Que Será?
Que vive nas idéias
Desses amantes
Que cantam os poetas
Mais delirantes
Que juram os profetas
Embriagados
Está na romaria
Dos mutilados
Está nas fantasias
Dos infelizes
Está no dia a dia
Das meretrizes
No plano dos bandidos
Dos desvalidos
Em todos os sentidos
Será, que será?
O que não tem decência
Nem nunca terá!
O que não tem censura
Nem nunca terá!
O que não faz sentido...
O que será? Que será?
Que todos os avisos
Não vão evitar
Porque todos os risos
Vão desafiar
Porque todos os sinos
Irão repicar
Porque todos os hinos
Irão consagrar
E todos os meninos
Vão desembestar
E todos os destinos
Irão se encontrar
E mesmo padre eterno
Que nunca foi lá
Olhando aquele inferno
Vai abençoar!
O que não tem governo
Nem nunca terá!
O que não tem vergonha
Nem nunca terá!
O que não tem juízo...(2x)


terça-feira, 15 de março de 2011

O que Será?



O Que Será - à Flor da Pele
Chico Buarque


O que será que me dá
Que me bole por dentro, será que me dá
Que brota à flor da pele, será que me dá
E que me sobe às faces e me faz corar
E que me salta aos olhos a me atraiçoar
E que me aperta o peito e me faz confessar
O que não tem mais jeito de dissimular
E que nem é direito ninguém recusar
E que me faz mentir e me faz implorar
O que não tem medida, nem nunca terá
O que não tem remédio, nem nunca terá
O que não tem receita

O que será que será
Que dá dentro da gente e que não devia
Que desacata a gente, que é revelia
Que é feito uma aguardente que não sacia
Que é feito estar doente de uma folia
Que nem dez mandamentos vão conciliar
Nem todos os ungüentos vão aliviar
Nem todos os quebrantos, toda alquimia
Que nem todos os santos, será que será
O que não tem descanso, nem nunca terá
O que não tem cansaço, nem nunca terá
O que não tem limite

O que será que me dá
Que me queima por dentro, será que me dá
Que me perturba o sono, será que me dá
Que todos os ardores me vêm atiçar
Que todos os tremores me vêm agitar
E todos os suores me vêm encharcar
E todos os meus nervos estão a rogar
E todos os meus órgãos estão a clamar
E uma aflição medonha me faz suplicar
O que não tem vergonha, nem nunca terá
O que não tem governo, nem nunca terá
O que não tem juízo


sexta-feira, 11 de março de 2011

Contra-senso


Terminei de ler faz uma semana "A Luneta Mágica" de Joaquim Manuel de Macedo (1820-1882). Publicado em 1869 foi provavelmente o primeiro romance da Fantasia Contemporânea. Um livro sensacional. Levou-me a refletir em como nossa vida é influenciada pela forma como vemos o mundo e como perspectivas absolutistas podem nos levar a loucura.
            Resumidamente Simplício é um rapaz míope, diz-se que tem duas miopias, uma física e outra moral, a primeira lhe impede de enxergar qualquer coisa, mesmo a um palmo de distância, a segunda o faz um sujeito sem opinião própria. Um dia ele ganha uma luneta mágica que lhe fornece a visão das coisas físicas, mas após 3 minutos ele ganha também a visão do mal. Quem lhe dá a luneta diz que ele irá quebrar esta luneta, e assim acontece. Ele ganha uma nova luneta mágica, a luneta do bem, que assim como a primeira, lhe dá a visão física e após 3 minutos lhe dá a visão do bem e assim como a primeira esta estava predestinada a ser quebrada.
            Por fim ele recebe uma terceira luneta, a o bom-senso, que tem o mesmo funcionamento das outras, inclusive em sua sina de ser quebrada.
            Simplício garante que jamais quebrará a luneta e assim o livro acaba.
            Por uma questão de lógica esta luneta também será quebrada, para mim isto é certo, mas por quê? Afinal esta luneta dá-lhe uma visão ponderada, que diferente das outras não o jogará em falsos julgamentos.
            Simplício chega ao final do livro sem encontrar o que mais queria. Uma boa mulher para se casar e construir uma família e o autor não se preocupa em dar este desfecho ao livro.
            Simplício mora em cada um de nós, mas então porque, assim como Simplício, mais dia menos dia quebraremos a nossa luneta do som-senso?
            Porque o amor é contra-senso, é contra a lógica! Se enchergarmos o mundo a partir dessa luneta o amor passará de loucura à lógica. Já pensou num Jesus com bom senso? Ao ver tanta surda e cega teria ido procurar outro povo mais lúcido! Ele já havia tentado de tudo. Ensinado, alimentado, cuidado. O bom-senso diz para desistir, afinal “por que amar a quem não me ama?”, mas o amor diz que “se depender de mim eu vou até o fim”
            O que aprendi? Qua não dá para viver vendo o mal e nem o bem, não da para amar vendo as pessoas com senso. O único jeito de amar é nos desnudando de qualquer luneta, ou melhor, usando a única luneta que nos é cobrada ter, a Luneta do Humano.




quarta-feira, 9 de março de 2011

O canto do coração

A Tonga da Mironga do Kabuletê



Eu caio de bossa
Eu sou quem eu sou
Eu saio da fossa
Xingando em nagô

Você que olha e não vê
Eu vou lhe dar uma pala
Você vai ter que aprender
A tonga da mironga do kabuletê
A tonga da mironga do kabuletê
A tonga da mironga do kabuletê

Eu caio de bossa
Eu sou quem eu sou
Eu saio da fossa
Xingando em nagô

Você que lê e não sabe
Você que reza e não crê
Você que entra e não cabe
Você vai ter que viver
Na tonga da mironga do kabuletê
Na tonga da mironga do kabuletê
Na tonga da mironga do kabuletê



Você que fuma e não traga
E que não paga pra ver
Vou lhe rogar uma praga
Eu vou é mandar você
Pra tonga da mironga do kabuletê
Pra tonga da mironga do kabuletê
Pra tonga da mironga do kabuletê



Sempre em frente

sexta-feira, 4 de março de 2011

O Sonho de Uma Flauta [2]


            Andei pensando mais sobre o conto de Hermann Hesse esses dias. Tenho pensado no que ele fez quando o barco correu noite à dentro, impossível de voltar atrás.
            De uma coisa tenho certeza, ele não parou de cantar, só que agora suas canções são mais sábias, mais cheias de significado, mais humanas e menos idealizadas.
            Uma banda da qual gosto muito se chama Teatro Mágico, tenho bastante para falar dela, mas por enquanto quero apenas deixar aqui uma música deles, que se chama “Sonho de Uma Flauta” que, para mim, é a canção que sai dos lábios do jovem moço já não tão moço.

Sonho De Uma Flauta

Nem toda palavra é
Aquilo que o dicionário diz
Nem todo pedaço de pedra
Se parece com tijolo ou com pedra de giz
Avião parece passarinho
Que não sabe bater asa
Passarinho voando longe
Parece borboleta que fugiu de casa
Borboleta parece flor
Que o vento tirou pra dançar
Flor parece a gente
Pois somos semente do que ainda virá
A gente parece formiga
Lá de cima do avião
O céu parece um chão de areia
Parece descanso pra minha oração
A nuvem parece fumaça
Tem gente que acha que ela é algodão
Algodão as vezes é doce
Mas as vezes né doce não
Sonho parece verdade
Quando a gente esquece de acordar
O dia parece metade
Quando a gente acorda e esquece de levantar
Hum... E o mundo é perfeito
Hum... E o mundo é perfeito
E o mundo é perfeito
Eu não pareço meu pai
Nem pareço com meu irmão
Sei que toda mãe é santa
Sei que incerteza traz inspiração
Tem beijo que parece mordida
Tem mordida que parece carinho
Tem carinho que parece briga
Tem briga que aparece pra trazer sorriso
Tem riso que parece choro
Tem choro que é por alegria
Tem dia que parece noite
E a tristeza parece poesia
Tem motivo pra viver de novo
Tem o novo que quer ter motivo
Tem a sede que morre no seio
Nota que fermata quando desafino
Descobrir o verdadeiro sentido das coisas
É querer saber demais
Querer saber demais
Sonho parece verdade
Quando a gente esquece de acordar
O dia parece metade
Quando a gente acorda e esquece de levantar
Mas sonho parece verdade
Quando a gente esquece de acordar
E o dia parece metade
E o mundo é perfeito
E o mundo é perfeito
E o mundo é perfeito...

            A canção do jovem moço é metamorfoseada em canção de homem vivido, entretanto, otimista, pois apesar de ter “dia que parece noite” e “nota que fermata quando desafino” o mundo é perfeito.

O mundo é perfeito...
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