sexta-feira, 11 de março de 2011

Contra-senso


Terminei de ler faz uma semana "A Luneta Mágica" de Joaquim Manuel de Macedo (1820-1882). Publicado em 1869 foi provavelmente o primeiro romance da Fantasia Contemporânea. Um livro sensacional. Levou-me a refletir em como nossa vida é influenciada pela forma como vemos o mundo e como perspectivas absolutistas podem nos levar a loucura.
            Resumidamente Simplício é um rapaz míope, diz-se que tem duas miopias, uma física e outra moral, a primeira lhe impede de enxergar qualquer coisa, mesmo a um palmo de distância, a segunda o faz um sujeito sem opinião própria. Um dia ele ganha uma luneta mágica que lhe fornece a visão das coisas físicas, mas após 3 minutos ele ganha também a visão do mal. Quem lhe dá a luneta diz que ele irá quebrar esta luneta, e assim acontece. Ele ganha uma nova luneta mágica, a luneta do bem, que assim como a primeira, lhe dá a visão física e após 3 minutos lhe dá a visão do bem e assim como a primeira esta estava predestinada a ser quebrada.
            Por fim ele recebe uma terceira luneta, a o bom-senso, que tem o mesmo funcionamento das outras, inclusive em sua sina de ser quebrada.
            Simplício garante que jamais quebrará a luneta e assim o livro acaba.
            Por uma questão de lógica esta luneta também será quebrada, para mim isto é certo, mas por quê? Afinal esta luneta dá-lhe uma visão ponderada, que diferente das outras não o jogará em falsos julgamentos.
            Simplício chega ao final do livro sem encontrar o que mais queria. Uma boa mulher para se casar e construir uma família e o autor não se preocupa em dar este desfecho ao livro.
            Simplício mora em cada um de nós, mas então porque, assim como Simplício, mais dia menos dia quebraremos a nossa luneta do som-senso?
            Porque o amor é contra-senso, é contra a lógica! Se enchergarmos o mundo a partir dessa luneta o amor passará de loucura à lógica. Já pensou num Jesus com bom senso? Ao ver tanta surda e cega teria ido procurar outro povo mais lúcido! Ele já havia tentado de tudo. Ensinado, alimentado, cuidado. O bom-senso diz para desistir, afinal “por que amar a quem não me ama?”, mas o amor diz que “se depender de mim eu vou até o fim”
            O que aprendi? Qua não dá para viver vendo o mal e nem o bem, não da para amar vendo as pessoas com senso. O único jeito de amar é nos desnudando de qualquer luneta, ou melhor, usando a única luneta que nos é cobrada ter, a Luneta do Humano.




Um comentário:

  1. Pedro,
    Acredito que "humanização" seja um dos pilares para os relacionamentos!
    Como discutimos esses dias, D'us está no hifen, nos interstícios, onde estiver dois ou três...
    E se a luneta quebrar...
    Bem... essa é uma outra conversa!!!! heheheh!!

    Abração!
    Dominus Tecum!

    Wendel Cavalcante
    www.estradasou.blogspot.com

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