quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

O Mistério da Cascata

Sinópse:
“Grupo Parque de Teatro - Direção: Silvero Pereira
            História de uma rica família que perde toda sua fortuna por meio da hipoteca e para ter seus seguros a jovem donzela terá que casar, mas uma terrível bruxa fará tudo para destruir esse casamento e impedir que um grande mistério seja revelado e a paz possa reinar. 50min.Classificação livre.”

            Escrevi este texto para apresentar minha visão da peça, tem um pouco de spoiler, mas nada que tire o encanto do espetáculo, eis minhas impressões:

A peça apresenta logo na abertura uma caricatura de duelo, onde são apresentados todos os personagens, eles lutam entre si com o que tem em punhos até tudo se apagar... Tudo começa escuro, o duelo começa, termina e tudo fica escuro, a peça começa, termina e tudo fica escuro. Vejo o duelo inicial como um microcosmo da peça inteira.
            Alguns personagens trazem em si uma marca do que pode ser classificado mal, mas vamos chamar de defeito, mas cada defeito é sempre acobertado por uma boa desculpa.
            Primeiro temos O Conde, padrinho de Mirabel, que perdeu tudo no jogo e encontra-se doente. Quando ameaçado de perder sua estimada residência devido ao vencimento da hipoteca, é conivente em relação ao caso da afilhada e o Marquês, seu credor. Este comportamento rasteiro, ele esconde atrás de um manto de “senilidade”, porém não teme em apontar o dedo em riste para a afilhada no momento em que esta falha. Seu defeito é a dissimulação, ou talvez a covardia.
            Temos também Maribel, que tem espasmos de desejo pelo Marquês, mas, para acobertar a luxúria que brota em seu peito, coloca-se como casta e santa pronta para se entregar as vontades do inquisidor do padrinho, esquecendo inclusive de telo visto junto ao Conde quando este estava no chão, obviamente derrubado pelo Marquês.
            O Marquês Filipe, após desbravar o corpo de Maribel torna-se aparentemente um sujeito bom, amoroso, mas basta dar-lhe a notícia da gravidez de Maribel para que este retorne a aspereza anterior, seu desejo é e sempre foi, usufruir de Maribel enquanto esta lhe dava prazer.
            O Pai de Maribel, após ter perdido a esposa e ser quase morto pelo Conde, esconde-se na floresta, com uma aparente cegueira (um tanto duvidosa a meu ver), e apesar do ódio dirigido ao Conde, mostra-se semelhante a este, pois condena a filha por seu erro, apesar de logo remediar o ato, cério que viu na filha a figura da mãe, Santana, que se entregou a um homem fora do casamento, morta por sujar o nome da família.
            Santana teve uma morte interessante, assim como seria a da Branca de Neve, ou como foi a de João Batista, foi-lhe arrancado o coração e apresentado ao mandante em uma bandeja de prata. Tanto Branca de Neve quanto João Batista representavam uma ameaça a alguém, Santana provavelmente não era diferente, devia causar inveja ao Conde e a Governanta também.
            A Governanta Morgata, já tem de sinistro o nome, é a típica bruxa má, com poções envenenantes e poderes hipnóticos, devido a ganância de ter a fortuna do Conde para si, mostra-se como uma verdadeira amiga de Maribel, apenas para traí-la.  Maltrata o Conde e Penelope, a empregada muda, além de usar sempre verbos no futuro do pretérito, adicionando muitos “rerere’s” num sinal de vaidade.
            Na peça temos um bardo, que anuncia o que acontece em alguns hiatos e nos prepara para o que a por vir, apesar de estar usando máscara, é um dos únicos que é ele mesmo, tem um papel de anunciador, assim como a cigana, ambos são os únicos que não tem o rabo preso na história.
            Por último temos a empregada muda, Penelope, que é maltratada pela Governanta, apesar de parecer coitadinha, é uma empregada sem respeito pela hierarquia, mostra-se inconveniente e mal educada.
            Um dos pontos altos da peça, o momento do banquete, foi para mim um dos marcantes, enquanto o casal briga o Conde, Morgata e Penelope comem, despreocupadamente, e quando Filipe põe-se a falar, a própria Maribel, come, parece que falam: “ora, o banquete está servido não está!?”
            A peça apresenta personagens de uma sociedade de valores perdidos, é cômica, mas está centrada em valores um tanto relevantes. Mostra como as relações familiares hoje são podres, o relacionamento conjugal é débil, e a religião mostrada como misticismo pitoresco e Deus como um sujeito para se pedir coisas na hora da necessidade. Mostra pessoas que se disfarçam a ponto de enganarem a si próprios, pessoas que estão em um duelo entre si, continuo, para manterem sua máscara e ao mesmo tempo atingirem o que querem.
            Não quero apontar o dedo para nenhum personagem, todos eles tem um que de maldade, mas isso é coisa de todo homem, não somos só luz, mas também não somos só trevas, se mostrei apenas o lado negro da força é por que, como já disse, o azedume me persegue.
           
            A partir daqui falo do desfecho, se não quiser saber, não leia:
           
            O final pode parecer um tanto comum, mas acho que foi interessante, vou contar, no fim morrem Morgata e o Conde, os mais velhos, achei isso bacana, a peça imita a vida, os mais novos ficaram, pode ter até terminado um final feliz, mas não foi para sempre, os velhos morreram, como deve acontecer...é como dizem mesmo, a arte imita a vida, e eu amei a peça.

abs

Um comentário:

  1. Pedro,
    Muito boa sua análise da peça, principalmente quando vc diz que" Mostra pessoas que se disfarçam a ponto de enganarem a si próprios, pessoas que estão em um duelo entre si, continuo, para manterem sua máscara e ao mesmo tempo atingirem o que querem".
    Para esse tipo de gente eu "tô mandando brasa por cima de brasa"!!! heheheheh!!!
    Você leva jeito! hehehehe!!!
    Abração!

    www.estradasou.blogspot.com

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